Quase

Natalia Assarito
2 min readOct 2, 2023

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Meus quadros novos que ficaram nada aesthetic no meu quarto e agora não sei o que faço com eles

Começo dizendo que não sei se conseguirei segurar esse texto por muito tempo. Hoje estou atravessada: muito para falar e pouco neurônio pra transcrever. O pensamento fica sufocado dentro de mim.

Os últimos 3 dias foram difíceis. Eu não levantei da cama e não falei com ninguém. Agora estou minimamente melhor. Culpo a redução medicamentosa, digo pra mim mesma que vão ser dias difíceis, mas que logo estará tudo bem.

Como se fosse a ausência de remédio que me causa essa imensa sensação de inutilidade e, consequentemente, não pertencimento. A nossa sociedade é voltada para o trabalho e ação. Quando o indivíduo não consegue produzir, ou melhor, quando a produção lhe é alienada, a sensação é de que não se faz parte do todo social. E, eu me sinto assim, desgarrada.

Não aguento mais levantar e não ter um propósito no meu dia. Não saber como vou pagar as contas do mês que vem. E, o que deveria ser menos importante: como vou passar meu aniversário de trinta anos.

Outubro chega e com ele sempre a ansiedade pro meu aniversário – que é só no final de janeiro, mas eu já aceitei minha inquietude. São usualmente grandes planos que mudam ao longo dos quase 4 meses pela frente. Mas, são planos.

Nos últimos 5 anos eu imaginei meus 30 anos de todos os jeitos possíveis. Casada, namorando, viajando, em noronha com a minha família, em uma festa grande, uma festa bem grande e cafona no ônibus pela cidade, uma viagem pra Disney (mesmo eu não sonhando em ir pra Disney). Executiva, gerente, realizada no meu trabalho, lotada de amigos.

Eu nunca imaginei que estaria sozinha, com boa parte dos meus amigos casados, sem um emprego, sem renda e devendo muito dinheiro, porque minha bipolaridade me destruiu.

E era tão fácil. Era só me dar lítio que eu pararia de comprar. Demorou 5 anos e 4 médicos para que uma tivesse a ideia de me dar o remédio básico da bipolaridade. Precisou que eu me destruísse antes disso.

Eu sou uma mulher de quases.

Era uma promessa na multinacional que eu trabalhei, a melhor do escritório, um foguetinho. Quase que eu me dei bem no trabalho.

Namorei por 5 anos. Quase que me levaram a sério.

Saio, conheço caras, parece que vai ser interessante, conversamos por dias. Quase que eles me chamam pra jantar.

Eu não aguento mais estar na iminência. Sou uma promessa, uma ameaça. Mas, nunca concreta.

Preciso me virar e fazer alguma coisa. Alguma coisa rápida. Alguma coisa pra não começar meus 30 anos pensando que eu não presto pra nada e que o melhor da minha vida já foi.

Peço desculpas pelo texto triste, estou deprimida.

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Natalia Assarito

cientista social. Transformo angústias em texto. Instagram: @nanaleitora