Reflexões de um copo americano

Natalia Assarito
3 min readSep 16, 2023

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Eu não tomo nem café e nem cerveja

Acordei e fui stalkear a atual namorada livre de um não ex meu.

Queria muito entender essa modalidade de amor com mais profundidade. Depois de 5 anos de faculdade de ciências sociais na USP, eu aprendi muito bem que o amor vem em multiplicidade de formas. Muitos amigos meus são do amor livre. É aquele velho clichê: tenho até amigos que são.

Talvez eu seja a última monogâmica do Brasil e, sim, estou me sentindo a Dona Naná, uma senhora conservadora e exausta, escrevendo esse texto. Mas, juro, eu não consigo entender como é possível dividir o ser amado – se eu amo, eu não quero que mais ninguém chegue perto!

Enfim, vendo as fotos da atual não namorada do meu não ex namorado, me transportei pra um lugar que me aterroriza: o bar com copo americano de breja.

10 anos atrás, 2013, eu tinha 19 anos e namorava um cara que fazia faculdade na PUC. Um dia ele me levou pra sair com os amigos dele da PUC e uma moça, muito irreverente, muito engraçada, muito expansiva, que fez questão de ir apenas no bar do bahia na Augusta, porque lá tinha breja no copo americano.

Corta pra 10 anos depois: eu lembro o nome do bar e lembro que ele ficava exatamente ao lado de um pub que parecia super legal, mas ninguém entrou porque a moça queria ir no bar do Bahia.

Eu odiei aquela mulher. Eu odiei o bar. Eu odiei o meu namoradinho porque eu sabia que eu nunca seria a mulher que sugere tomar breja no copo americano e, sei lá, aquela moça exercia um poder pessoal e atratividade que na minha cabeça eu nunca teria – e talvez eu nunca tenha tido mesmo.

Não deu outra, uns meses depois descobri que eles estavam ficando (sim, ele ainda namorava comigo). E, sabe, eu perdoei. O que será que me configura em uma não monogâmica também? Dúvida: podemos nos considerar monogâmicos quando sabidamente cornos?

Eu tenho medo de mulheres que sugerem bares pra tomar breja no copo americano porque eu as considero incríveis. E, sério, a não atual do meu não ex poderia muito ser a versão adulta da menina que sugeriu ir no bar do Bahia tomar breja no copo americano.

E, desculpa desapontar todos os homens que, como os meus exs, buscam essas mulheres leves e irreverentes e decididas, mas nem cerveja eu tomo.

Vou em bares de copos americanos com as minhas amigas e lá eu peço gin. Me divirto, assim como eu me diverti com um homem não monogâmico, mas eu sei que não é pra mim. Os lugares não casam, me sinto uma pata no deserto.

Eu quero taça, vinho, um ambiente aconchegante que me faça ficar em casa um tempão pensando qual roupa colocar antes de sair. Eu quero um homem que não diga que é incapaz só de me amar. Acontece que eu sou assim, carente e insegura e talvez um pouco possessiva.

Comigo tem leveza, tem diversão, tem risada, mas também tem olhos profundos, conversas cansadas e ressaca pós final de semana. Eu quero alguém que queira ficar depois que o drink e a música acabarem. Certas esperanças não cabem em um copo americano tão raso.

E eu escrevo como se alguém fosse ler. E se importar.

PS: a autora se compromete a projetar menos seus traumas em fotos de mulheres desconhecidas que parecem serem felizes.

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Natalia Assarito

cientista social. Transformo angústias em texto. Instagram: @nanaleitora