Sete anos de solteira

Natalia Assarito
2 min readMar 21

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De vez em quando (muitas vezes por dia) eu me pego pensando no meu pavor de morrer sozinha. No meu cansaço porque todo homem que aparece me deixa um pouco mais desequilibrada. E me cobro. Acredito, fielmente, que eu ainda não superei minhas dores e é por isso que sigo sozinha.

Mas, eu já deveria ter superado? Talvez tenha passado da hora há, no mínimo, 4 anos. De verdade, eu não lembro quase nada do que me machucou. Tenho um problema sério de sempre esquecer aquilo que me atormenta. Então, eu não lembro. Mesmo.

Não elaboro. Não encaro. Não trago à tona. E isso não fecha a ferida que fica sempre aberta, por mais que eu não lembre como eu tenha me cortado.

Dizem que amor não dói e amor foi o que mais me causou dor na vida. Aquele desespero por ser insuficiente e não entender que tudo é sobre o outro e não sobre você. Sabe, no fundo, nós amamos o nosso reflexo e enxergamos bem pouco além disso.

Eu amava quem eu era quando namorava, apesar de não lembrar sem ver as fotos. Eu sou boa de ler pessoas porque foi o que eu fiz no trabalho nos últimos 7 anos. E tinha alguma coisa inocente ali no meu olhar. Algo que se perdeu com a idade, afinal, a coluna vai entortando e as nossas esperanças também. Não sei qual é mais rápida.

Eu me diverti horrores nesses últimos sete anos. Viajei tantas vezes, muitas além dos meus sonhos. Conheci praticamente todos os relevos do Brasil. Fiz amigos no país inteiro. Me formei na USP. Voltei a escrever. Passei a beber gin. Parei de assistir tv.

Mas, principalmente, eu me mediquei. Fico pensando se eu seria diagnosticada se não fosse o gatilho do término e de todas as vezes que eu me senti rejeitada. Hoje, qualquer coisa que me acontece, me sinto preterida e imediatamente sinto pena de mim mesma. Não tem sensação pior do que ter pena de si mesmo.

Se tudo é aprendizado, em muitos momentos eu preferia ter continuado burra. Era pra esse ser um texto feliz, mas ele está repleto de medo, angústia e de “nãos”. Nunca escrevi tantas palavras negativas na vida.

Eu tenho medo de não ter a pilar e o Jorge. Tenho medo de perder meus pais e ficar sozinha de vez. Tenho medo de encontrar alguém por carência e ter que lidar com as consequências disso. Tenho medo até de colocar aquele aparelho de dentes invisalign porque ele exige muito compromisso e é praticamente um relacionamento sério.

Sou a única capaz de me curar, amar e reerguer. Contudo, tem dias que eu queria colo. É muito duro ser seu próprio lar durante todo tempo do mundo.

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Natalia Assarito

cientista social. Transformo angústias em texto. Instagram: @nanaleitora