Todos os homens que eu já inventei
--
Será que eu tô maníaca? Será que eu sou esquizofrênica? Será que eu tô psicótica?
Eu sei, vocês sabem, meus pais sabem, meus exs sabem, todos nós sabemos: eu sou caótica. Minha cabeça não é capaz de parar só um instante e ela cria coisas. Eu invento minhas histórias e elas são tão verossímeis que eu quase acredito. E, então, eu penso, “preciso de ajuda psiquiátrica” e o psiquiatra diz que eu não preciso de ajuda psiquiátrica – pra isso, pelo menos.
Sou uma grande bipolar. Diagnosticada e medicada. E fico sempre me policiando com medo de estar maníaca, mesmo sabendo que quando eu tô maníaca eu gosto de gastar mais dinheiro que o normal e de dizer que eu sou linda. Só isso.
E eu também tenho crises de raiva, elas são terríveis. Eu acordo xingando na minha cabeça e vou dormir xingando na minha cabeça, mas eu não xingo ninguém na vida real, porque o problema é meu de ser bipolar e não dos outros.
300mg de lamotrigina depois, tá tudo bem. Mas, o rastro do que eu senti fica lá, doendo, dolorido mesmo, lembrando que eu penso aquelas coisas e escondo até de mim. Até o dia que explode tudo e eu fico “NATALIA, PELO AMOR DE DEUS, PARA DE PENSAR UM POUCO” e eu não paro.
Porém, mesmo quando eu não tô nem maníaca e nem depressiva, eu invento homens. Normalmente é o último com quem eu conversei e que me deu atenção. As ideias vão longe.
Elas começam comigo encontrando meus amigos do lado do meu namorado e todo mundo pensando em como eu sou legal porque nós somos legais juntos (socorro, anotar pra quando eu voltar pra terapia: aparentemente só ser legal não me basta, preciso de um outro pra ser legal comigo). Depois eu penso nas viagens. Penso que talvez esse seja o homem que me fará perder o medo de ser mãe – vocês já pensaram em uma bola de basquete saindo da ppk de vocês? E depois não poder ir ao banheiro mais sozinha porque tem um ser indefeso que precisa de você? E não poder se encher o saco da vida e simplesmente pegar um casaco de pelos coloridos e dizer “tô fora” (eu sou dramática, meu divórcio vai ser assim). Eu penso toda hora.
Ano passado fiz um texto “Diz pra ela que meu nome é L.” (ou algo do gênero) que teve bastante sucesso. É só você rolar meu feed um pouco pra baixo. E, nossa, que invenção gostosa foi o L. A gente deu um beijo na balada, ele me disse que era advogado de Ribeirão Preto.
E, de repente, eu já era a primeira dama de Ribeirão Preto. Rica, poderosa, fazia pilates no meio da tarde. Viajava pra neve com o meu L. que é um pouco calvo, mas não tem problema. Porque ele era um advogado famoso que me amava muito.
Ontem de madrugada me deu vontade de mandar mensagem pro homem que dormiu abraçado em mim de calça jeans e depois partiu meu coração em pedacinhos iguais aos das chiquititas. Dizer pra ele, “oi, eu te vi no show do The Killers”. Faz 5 meses do show do The Killers já.
Só que ele tem que entender que a nossa história foi linda demais na minha cabeça pra ela nunca acontecer. A gente ia no Allianz juntos ver o Palmeiras. Eu com a minha camisa de 94 que tá guardada desde que eu nasci esperando o dia em que eu vou ter um amor pra me levar pra ver o jogo do lado da Mancha Verde. Ele também tem uma camisa de 94. E ele tinha uma cama esburacada que eu precisava convencer ele a trocar, porque Deus me livre dormir em cama esburacada. Enfim, nada disso aconteceu.
O último que apareceu quer fazer academia e natação comigo (a minha única resolução de desemprego é aprender a nadar). Eu acho que ainda não escrevi propriamente sobre ele, porque quando escrevo, eles se tornam reais e nunca conseguem ser bons na realidade. De qualquer forma, foi ele me dizer isso da academia que eu já fiquei “coitado, ele nem imagina que agora na minha cabeça nós vamos ser o casal mais fitness e sincronizado e que tira fotos no espelho lindas do lado dos aparelhos que a academia já viu”.
Meu psiquiatra diz que ser assim é normal. Eu sempre fui assim, na realidade. Não tenho muito o que dizer… a fantasia me diverte.
Eu sei que não vai ser assim. E que um amor de verdade não vai ser tão colorido e divertido. E que talvez eu não encontre ninguém porque me falta um pé na realidade.
Quero alguém pra compartilhar a vida, os planos, comer pizza no sábado em casa e brigar porque quero sair com as minhas botas de salto fino altas. E ficar tranquila embaixo do edredom vendo série e pensando “puta merda, como eu aguentava ficar só eu e a minha cabeça o tempo inteiro?”.
Uma hora ele chega. Mas, no fundo eu sei. Pelo menos não tão assim.