Um festival de mim

Natalia Assarito
3 min readSep 6, 2023

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Um leve surto que eu tive nos stories esses dias :)

Eu queria escrever um texto que fosse tão bom como uma música do Arctic Monkeys. Essa linha tênue entre o genial e uma confusão terrível com bateria acelerada ao fundo. Um texto que fizesse alguém se apaixonar, por mim, ou por outra, mas que ressuscitasse a fé no amor de quem me lê.

Sei lá, uma coisa meio Rubem Alves, que falasse um pouco com a alma de cada um. Eu não gosto de metáforas, na vida as coisas precisam ser claras, diretas e objetivas. Além de didáticas. Mas, ainda me expresso muito metaforicamente.

Muito de nós escrevemos para nos esconder. Colocar no papel aquilo que nos mata de dentro pra fora e depois guardar na gaveta pra nunca mais. Eu gosto de me expor, gosto até demais. Porque quando me exponho, sou qualquer coisa que não eu. Me convenço que, ao convencer o outro, sou aquilo que aplaudem.

“E tenho a minha loucura” – minha mania de grandeza de achar que meus 300 e poucos seguidores no Instagram são todos. E que me aplaudem.

O que importa é o engajamento. Interagem comigo o todo, em todas as minhas redes sociais. Foi essa a forma que eu, filha única, e criança problemática, venci a solidão. De vez em quando, perco.

Sou viciada em contato humano. Engraçado pensar que minha profissão é falar, ajudar e convencer gente o dia todo. Se eu morasse em frente à planilhas já estaria mais murcha que o girassol que comprei no mercado anteontem.

Seria eu uma carente irreparável? Eu reclamo muito aqui sobre não conseguir desenvolver relações amorosas com homens, mas, a verdade é que na vida real eu dou o espaço que precisam. Eu não insisto, não tento entender, não questiono. Não ter uma resposta já é uma resposta, acredito muito nessa frase de bombom barato.

Tornando explícito: eu preciso de reforço positivo. Preciso que leiam meus textos e digam que eles são bons. Preciso que meus amigos sintam minha falta e queiram conversar comigo durante o dia. Preciso que achem graça do personagem que eu criei no Instagram.

Perder o emprego antes da hora me tirou tantas coisas. Entre elas, a alegria de comemorar meus 30 anos. Um número cabalístico. E, fora isso, aniversário é o maior reforço positivo que alguém pode ter. Todo mundo ali, junto e se divertindo, porque você existe.

Hoje meu primo me disse que não curte as fotos em que é marcado porque isso seria muito egocêntrico. Imagina se ele descobrir que só esse ano eu já escrevi mais de 20 textos sobre mim – e sobre os homens que eu invento, é claro.

Começou a tocar 505 e me lembrei de tantos caras pelos quais já chorei em segredo e silêncio. Depois que comecei a tomar lítio minha obsessão por encontrar um amor passou. Agora ela é uma voz baixinha lá do fundo que diz “e se a gente tentasse mais uma vez? Seria tão legal se desse certo!”.

Tenho uma teoria que homem vai até o inferno quando está querendo verdadeiramente uma mulher (e esse querer não é só romanticamente, muitas vezes estamos falando de algo carnal). E, sinceramente, se eu já não insistia, agora não levanto mais um dedo.

Eu queria escrever um texto tão bonito como uma música do Arctic Monkeys e, provavelmente, por isso, eu só escrevo sobre mim. Minha cabeça é digna de uma trilha sonora indie. E, agora, quem quiser ouvir, que se esforce pra participar do festival que é meu corpo. A maior parte do tempo faz sol, mas tem momentos em que os raios fecham o palco. O que importa é a música e ela sempre está tocando.

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Natalia Assarito

cientista social. Transformo angústias em texto. Instagram: @nanaleitora