Vaso quebrado ou um texto sobre a dor de se partir

Natalia Assarito
3 min readAug 23, 2023

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Ontem eu acordei com dor. Não faço academia há 14 dias. Eu simplesmente dei um perdido no meu personal e eu contratei o personal pra não dar um perdido na academia. Como boa parte das coisas que eu preciso lidar na minha vida: nada disso faz sentido.

Eu poderia começar esse texto dizendo que talvez eu tenha me descompensado porque eu tomei UM, um mísero dia, meus remédios atrasados; mas a verdade é que eu tive gatilhos que vão muito além do atraso de um dispositivo químico.

Me falaram que whey de morango tinha gosto de Nesquik e a verdade é que tem gosto de antibiótico de criança. E eu tomo remédios demais. Preciso me convencer que não posso jogar 1kg ou 120 reais no lixo. Vou encarar o falso antibiótico.

Comprei um vaso que demorou quase 20 dias pra chegar e veio completamente quebrado. Esses dias são assim, eu me sinto quebrada por dentro. Agora é um exemplo, sentada no escuro, escrevendo um texto ruim.

Eu queria que meu pai pudesse me olhar como eu sou e me admirar por ter chego até aqui. Mas, perto dele, eu disfarço. Porque ele ama o meu disfarce e eu amo deixar ele feliz. Mesmo que eu tenha me anulado todo esse tempo. E que eu não possa ser quem eu gostaria de ser.

Nós últimos 3 anos tive um grande incentivador da minha essência. Eu nunca soube direito o que sentia por ele, mas agora me pego chorando toda hora porque em duas semanas, depois de 2 anos de ajustes, ele vai morar em Londres.

Eu, que sempre me senti insuficiente, encontrei como parceiro de caminhada alguém que admiro demais. O ser já foi repórter em tudo quanto é canto, entrevistou o governador de São Paulo e o Ministro dos Transportes no Roda Viva, escreveu livro, fez mestrado em Barcelona, agora vai pra Londres estudar de graça… e ele me lê desde 2014.

Foi parar no meu blog de literatura, achou meu instagram e insistiu por anos pra gente se conhecer. Ele me acha inteligente e divertida e engraçada. Eu escrevo isso pensando “como é que pode????”.

Nessas horas eu quase acredito. Porque se ele, que é tudo isso, me acha grandes coisas, alguma coisa eu devo ser.

E eu vou sentir falta, mas espero que ele ainda me ligue tarde da noite – ou melhor, me faça ligar pra ele – pra contar de algum caso amoroso que não deu certo de novo. E pedir minha opinião. E rir da minha sugestão e fazer tudo ao contrário.

Porque talvez eu seja e tenha sido um pouco infantil demais todo esse tempo.

É difícil bancar que eu preciso contrariar meu pai e ser livre para, por exemplo, ter a religião que eu me sinto mais confortável – isso pra ele seria a morte.

E é difícil aceitar que vasos quebrados não se consertam. Ou você encontra pessoas que entendam seu conceito desconstruído e te admirem do seu jeito ou você vai ficar pra sempre preso na narrativa da insuficiência.

Porque amo toda’ las locuras de tu mente

Y así me encanta presumirte ante la gente

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Natalia Assarito

cientista social. Transformo angústias em texto. Instagram: @nanaleitora