Visão

Natalia Assarito
2 min readDec 10, 2023

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Eu gosto de tentar imaginar o sentimento dos começos. Como quando um bebê sai de dentro da mãe e abre os olhos pela primeira vez. A quantidade insuportável de luz, a confusão. Tudo que se tem pra enxergar e o pouco que é possível ver. Muitas vezes me pego pensando nisso.

E, provavelmente, todos os novos começos têm bastante de olhos envolvidos. Pupila que dilata, sentimentos difusos. Uma casa nova e muita luz nova e um tanto de coisas pra investigar com os olhos.

Só se vive através dos sentidos.

Um dia você tá cansada de tudo que quase foi, tudo que não foi, tudo que poderia ter sido, tudo que foi só na sua cabeça e tudo que nunca foi. E olha pro lado e pensa que é jovem demais pra sentir tanto descompasso e descontrole e vontade. E aceita.

Na estação de metrô da minha casa antiga que a gente se encontrou e eu te vi. Pela primeira vez. De novo. E, talvez, tenha visto um pouco com olhos de recém nascido, difuso, confuso. Olhos que sabem que tem muito pela frente e um tanto de tempo pra crescer.

Olhar pra vida e pensar, “então é isso?”. Encarar e dar chances. Pegar os trens que partem em horários inesperados e ver um monte fora do seu bairro.

O choque da visão do nascer é o maior, tão grande que a evolução não permite que nos lembremos dele. Agora, talvez quase imenso, é o choque de ver e escolher renascer. Recomeçar. Realmente, escolher viver amor de novo até onde dá.

Com medo, bagagem e passado. Mas, dessa vez, de olhos bem abertos e peito cicatrizado.

(Decidi fazer uma série com texto pra cada um dos sentidos)

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Natalia Assarito

cientista social. Transformo angústias em texto. Instagram: @nanaleitora