Você jogava basquete
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Eu lembro claramente do tanto que você gostava de basquete. Talvez porque você fosse o maior da turma desde que nós tínhamos 3 anos (eu, aos 18, tinha 1,70m e você parecia o meu dobro). E o temperamento calmo, muito calmo.
O seu shorts da escola era grande o suficiente pra parecer um Jordan, mesmo que no Brasil ninguém soubesse ainda o que era um Nike Jordan – os anos 2000 na zona norte paulistana eram um pouco distantes. Você nunca usava calça, nunca mesmo. Até que um dia você simplesmente sumiu porque quebrou a canela, em muitos pedaços diferentes, jogando basquete.
Depois de um mês voltou com os pinos pra fora da perna. Quase que uma perna robótica. Eu achava aquilo muito estranho e ficava pensando se doía. Mas, não te perguntava porque eu sofria bullying demais e eu não queria correr o risco.
Em um amigo secreto da sétima série você me deu um bombril. Zoando meu cabelo. E eu te olhei porque você nunca tinha sido malvado comigo. Fiquei incrédula. E não falei nada porque falar só piorava as coisas.
Você era tranquilo. E lindo. Lindo de verdade. E inteligente. Inteligente de verdade. Você sumiu quando acabou a escola e eu sempre me perguntei o que tinha acontecido contigo, porque as pessoas simplesmente não desaparecem.
E ontem eu soube que há 3 anos você não tá mais aqui. Pra sempre.
Por muito tempo eu lembrei de você como o cara que me machucou, quando quem sangrava era você. Às vezes as pessoas têm jeitos estranhos de pedir ajuda.
Viver é sobreviver apesar de.
Eu espero que você tenha encontrado paz e que a sua dor tenha ido embora. Eu não acredito em Deus, mas nessas horas eu quero muito acreditar. Porque em algum lugar você merece ser feliz.